Estava chovendo e eu estava sentada dentro do carro,
olhando a paisagem à noite. Meio cinza, meio branco, meio preto. Uma
mistura de cores que envolvem as nuvens e a lua. As estrelas não aparecem
hoje. Alguns dizem que Deus está chorando. Outros dizem que o dia está ruim. Bem
se está, eu não sei. Mas para mim a chuva não significa tristeza nem
nada do tipo. Há algo mais lindo que pessoas que estavam passando o período da
seca brincando e dançando na chuva como se fossem crianças? Os vidros de
janelas com as gotas escorrendo? A Lua, a sempre linda lua, mostrando seu lado
obscuro? Aquele ventinho que a acompanha e traz uma vontade de ficarmos
sentados olhando filme e tomando algo quente? Com todos esses motivos, ainda
dizem os dramáticos que a chuva é algo detestável.
- Pai? - resmunguei.
- Oi? - ele respondeu.
- É muito sério?
- Depende. Se continuar assim... - Ele dirigia sério e
sempre olhando atentamente a estrada.
- Ah...
Quando chegamos em casa vi que tinha alguém sentado no
degrau que se dirigia para a porta de entrada da minha casa. Pensei que fosse
meu irmão que tivesse esquecido a chave, do jeito que é inútil.
Meu pai me ajudou a sair do carro, mesmo não sendo
necessário. Nós dois andamos no mesmo enorme guarda-chuva. Quando cheguei perto
eu reconheci quem era o garoto inútil sentado à frente da minha casa.
Estava com um guarda chuva pequeno e por isso estava
encharcado. Era o Lucas. Ele saiu correndo e me abraçou. Pareceu-me bastante
preocupado. Meu pai, sem expressão alguma o ignorou e me levou até dentro de
casa. Depois fechou a porta com força e me deixou do outro lado, sozinha. Não
consegui ouvir nada do que eles estavam falando mas me pareceu uma briga
civilizada entre dois homens. Eu ainda estava parada ali na frente da porta
quando meu pai entrou. Do outro lado, na rua, eu pude ver o Lucas indo embora de
cabeça baixa.
- O que houve pai? - falei em um tom bem alto.
- Não fique exaltada. - ele falou calmo, o que me irritou. -
Você não precisa saber.
Ele passou por mim, ainda sem expressão alguma. Segurei seu
braço com força. Agora meus olhos já estavam lacrimejando, e meu tom de voz já
começava a se parecer com um grito.
- Me fale o que houve!
- Ele te encontrou não foi? - agora
eu conseguira deixá-lo irritado a ponto de ele explodir.
- Sim, foi ele quem me encontrou. E isso seria motivo
para ficar agradecido com ele, não irritado.
- Ele não me avisou nada sobre você ter desmaiado. Só disse
que te encontrou. Achei que ele tinha te visto andando na rua ou algo assim. A
mãe dele foi quem disse que você havia desmaiado. Você podia - ele parou
de repente, como se estivesse pensando duas vezes antes de falar - você podia
estar com algo mais sério.
- E daí pai? O que você disse para ele? - eu já estava aos
prantos.
- Eu disse que não permitirei que vocês se encontrem.
- Você é idiota ou algo assim? Você não pode criar regras
estúpidas como essa. Aliás, eu realmente não gosto de você.
Saí sem olhar para seu rosto.
Com que direito o senhor acha que pode proibir os dois de se vê e seu merda (com todo respeito)
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