Acordei com o despertador que já estava na terceira soneca.
Os outros dois toques eu não tinha ouvido. Isso quer dizer que já eram 7 hs e
eu estava bem atrasada. Acordei com um pulo e botei meu uniforme, qualquer
blusão e o tênis. Escovei os dentes e corri pra escola. Como era de se esperar
cheguei atrasada e ganhei sermão da coordenadora. Eu não estava com saco pra
isso, ontem fui dormir à 1 h da madrugado porque estava lendo e pra piorar não
tinha acordado de bom-humor. Resmunguei qualquer coisa e me mandei pra minha
sala que ficava no 4º andar.
Entrando na sala, bem previsíveis, meus colegas todos
se viraram pra mim com cara de desprezo e de zoação. E o professor nem me viu.
Fui logo me sentar na minha carteira que fica na terceira de cinco fileiras ao
lado da janela. Ao meu lado se senta uma garota tímida e fofa que nem ao menos
me dá oi. Eu particularmente gosto de me sentar ali porque posso ficar vendo os
alunos lá embaixo caminhando e fazendo os seus deveres.
Aquela aula estava chata, eu não queria saber qual é o clima
predominante na Austrália, afinal eu nunca vou pra lá mesmo. Então fiquei
tentando descobrir como seria a vida dos meus colegas fora da escola. Acabei
chegando a conclusão de que o nerd que senta na frente da carteira do
professor, em casa, era o filho mais reclamão que alguém pode ter, a garota
loira que senta no fundão e se faz de bad girl é uma dona de
casa reprimida pela mãe e estudiosa e o playboy era na verdade um garoto pobre
que passava a tarde trabalhando em um emprego de meio-período para poder
comprar suas roupas de marcas e pertences caros. Contudo, todos eram falsos
consigo mesmos na escola. Nunca entendi o porquê disso. Eu não sou rica
nem nada, demonstro meus sentimentos no rosto e no meu visual e se alguém me
perguntar como é minha vida não vou ter nenhuma vergonha de dizer.
Passaram os dois períodos que eu tinha de geografia, o de
história (<3) e finalmente estávamos sendo liberados para o recreio. Desci
todos àqueles intermináveis degraus e encontrei com o Luc que estava
me esperando na saída do prédio para o pátio. Ele estava usando o moletom
canguru cinza que eu tanto amava e já tinha pegado emprestado dele muitas vezes
nos dias que a temperatura mudava de repente. Ele era muito simpático e social.
Não sei por que gastava o tempo precioso do recreio sozinho comigo. Fomos
comprar croaçã de chocolate na cantina da escola enquanto ele me contava
como havia sido seu final de semana. Ele sabia tudo sobre mim, até coisas de
mulher. Como eu sabia tudo dele, pelo ou menos é o que eu sempre pensei.
- Eu fui naquele show da banda da minha prima que eu tinha
te falado. O estilo pop-punk que elas aderiram as músicas é bem foda.
- Queria ter ido, pena que tinha aquela janta em família que
meu pai me obrigou à ir.
- Você ia gostar. Ah, ô ísi - esqueci de comentar que o
único que me chamava por apelido era o Lucas - vem comigo pro shopping depois
da aula?
-Vish, hoje eu não posso almoçar no centro. O Eósforos vai
fazer o almoço hoje e quer que todo mundo esteja em casa
Entramos na fila do bar que estava vazia já que era
segunda-feria.
-Osh, então eu podia ir contigo até em casa e almoçar lá. O
Eós vai cozinhar e eu não posso perder essa. Depois vamos pro shopping que eu
preciso comprar meu tênis e uma bolsa.
- Só tenho que ligar pra ele e avisar pra ele fazer o dobro
de comida já que vai almoçar um faminto lá. - Fiz o pedido e recebi os dois
croaçãs.
Logo que terminamos nosso lanche bateu o sinal para o quarto
período. No caminho da minha sala liguei para o meu irmão e comuniquei que o
luquinhas ia pra casa. Agora eu ia ter Artes e depois Educação
Física. Sempre odiei Educação Física. Aqueles foram períodos bem longos e
quando terminaram só faltava eu gritar aleluia!.
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